Fazendo História

Primeira Estação:

Convido a todos fazer parte deste passeio pela Vida, já que para fazer história é preciso ter passado pela vida e deixado sua marca. Assim, desde filósofos, políticos e mártires até escravos, indígenas e o tocador de tuba no coreto fazem parte desta viagem que quer retratar a cultura costurada durante o tempo dos Homens.
Aproveitem da viagem!

domingo, 16 de maio de 2010

TRABALHO COM IMAGENS



Nome da imagem: Soldados Índios de Mogi das Cruzes

Autor: Jean Baptiste Debret.

Obra: Viagem Pitoresca e História ao Brasil

Data: 1834

Esta imagem faz parte de uma das 153 pranchas, acompanhadas de textos explicativos da obra “Viagem Pitoresca e História ao Brasil”. Seu autor, Jean B. Debret era um dos integrantes da Missão Artística Francesa, que foi solicitada por D. João VI com o objetivo de organizar no Brasil a criação de uma Academia de Belas Artes.

A obra artística de Debret era destinada a leitores europeus, buscando demonstrar detalhes da formação cultural do Brasil, num resgate as particularidades deste povo.

São apresentadas telas com cenas e características do cotidiano da sociedade brasileira, assim Debret procurava representar o caráter do povo segundo seus costumes, festas populares e da corte, relações de trabalho e humanas.

Esta obra é dividida em três Tomos: no primeiro são representados os indígenas e os aspectos da mata brasileira entre elementos da fauna e da flora nativas. O segundo Tomo concentra-se na representação dos escravos negros, no trabalho urbano e agrícola da época. O terceiro Tomo trata de cenas do cotidiano, das manifestações culturais entre festas e tradições populares assim como da corte portuguesa.

Debret apresenta seu trabalho numa fase de transformação de tendências artísticas, em suas obras podemos perceber aspectos do Neoclassicismo, como na representação idealizada dos índios, com traços fortes e em cenas heróicas reafirmando o ideal racionalista. Entretanto também vemos a influencia sentimental do Romantismo que se caracteriza pela liberdade de criação e da emoção, que podem ser identificadas nos textos que acompanham as aquarelas seguindo uma interpretação própria do autor.

A imagem escolhida como documento histórico para análise em sala de aula é específica para o estudo da formação histórica da realidade regional nesta área do Alto Tiete, para alunos do Ensino Fundamental.

A pintura de Debret “Soldados Índios de Mogi das Cruzes” retrata a figura do bandeirante Brás Cubas, que após ter recebido a concessão da sesmaria de Jeribativa (atual região do Alto Tiete), partia para a conquista destas terras, nos idos de 1560.

Esta imagem é uma representação do ambiente da batalha, tendo como figura central o Bandeirante, que envolto em nuvens dispara um tiro de escopeta em direção aos índios rebeldes, e em segundo plano, está o suporte de sua armada, ou seja, índios escravos e aliados além dos caboclos (mestiços de índio com branco).

Assim como em outras pinturas, também esta é uma imagem idealizada, uma vez que o autor da obra não presenciou o acontecido e, portanto representa o bandeirante como um chefe da armada, disposto sobre uma indumentária própria de guerreiros conquistadores, seguido por um exército de combatentes sob suas ordens e também com trajes de guerreiros.

O contraponto real desta imagem está nos registros históricos de que os bandeirantes ou sertanistas de São Paulo estavam em busca de riquezas minerais, de indígenas para a escravidão ou para o extermínio de quilombos.

A maioria deles eram índios, caboclos e alguns brancos como capitães. Os caboclos eram os elementos principais deste grupo, pois podiam mediar as negociações com os índios guarani. Os bandeirantes paulistas, devido a sua pobreza não podiam adquirir escravos africanos e por isso escravizavam os índios.

A imagem idealizada por Debret transmite a idéia do europeu forte e conquistador, que sobre a perspectiva do herói consegue dominar os índios indolentes que não admitiam as necessidades da civilização. Esta assim compõe a justificativa maior para a dominação deste território: a Chegada da Civilização.

EM SALA DE AULA

A imagem escolhida para esta análise pode ser aplicada nas classes de 5ª serie / 6º ano do ensino fundamental, quando for estudada a temática dos Bandeirantes.

Neste estudo é possível aproximar a discussão a cerca dos bandeirantes paulistas, da fundação da cidade de Mogi das Cruzes.

O trabalho com este documento deve ser feito após uma discussão inicial sobre o contexto histórico do movimento das Bandeiras, pedir para que os alunos levantem dados sobre os Bandeirantes, suas intenções, sua organização social, a composição destes grupos, o destino desta empreitada, o resultado de suas ações.

Para relacionarmos tais conceitos com a realidade desta região, a imagem de Debret deve ser apresentada, seguida de um questionário que auxiliará os alunos na interpretação desta imagem:

· Quem é o autor dessa obra?

· Em que ano foi feita?

· Qual a imagem retratada?

· Como é descrita a figura central?

· Em que época se passa este fato?

· Relacionar os dados registrados na imagem com o contexto histórico do movimento das Bandeiras Paulistas.

· Fazer uma conclusão apontando as diferenças entre a imagem pintada e a realidade dos bandeirantes deste local, conforme o estudo foi feito.

· Quais as razões que levaram o autor Debret a fazer esta pintura como foi feita.

Diante das respostas oferecidas pelos alunos, surgirão vários questionamentos e temáticas para novas discussões sobre as diferentes opiniões apresentadas. O professor deve mediar este debate para fazer com que os próprios alunos formulem a idéia do conhecimento histórico estudado.

Referências:

ZAMBONI, Ernesta. Representações e Linguagens no Ensino de História. Revista Brasileira de Historia. v. 18 n. 36 São Paulo 1998

NASCIMENTO, Jairo Carvalho do. O Uso de Documentos e a Construção do Conhecimento Histórico. Prof. da UNEB – Campus VI/Caetité-BA

jcnascimento@uneb.br

http://www.historiadaarte.com.br/missaofrancesa.html

http://www.dezenovevinte.net/artistas/jbd_jlb.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mogi_das_cruzes

http://pt.wikipedia.org/wiki/Bandeirantes

http://images.google.com.br

O Documento como ferramenta da História







Partindo-se do princípio de que a história se constrói através de pesquisas documentais, vamos abordar as temáticas da construção do conhecimento histórico em sala de aula, criando condições de dinamismo nos estudos a despertar do interesse para a pesquisa histórica.

Neste trabalho serão utilizados como referencia de análise os textos de Ernesta Zamboni – Representações e Linguagens no Ensino de História e de Jairo Nascimento - O Uso de Documentos e a Construção do Conhecimento Histórico e ainda será feita uma análise documentada da imagem de Jean Baptiste Debret como exemplo para a utilização deste documento para atividades de pesquisa e formulação de conceitos em sala de aula.

A História é feita a partir de representações humanas, desta forma o objeto da história está nos registros coletados das ações humanas, estas representações do homem são expressas através de linguagem comunicativas, como por exemplo, a fotografia, o desenho, os textos escritos, os filmes, pinturas, construções arquitetônicas, esculturas, documentos de arquivos, enfim todos estes registros são materiais disponíveis para a construção do conhecimento em sala de aula.

Neste sentido, Ernesta Zamboni em seu texto “Representações e Linguagens no Ensino de História”, nos leva a pensar sobre os parâmetros da cultura no ensino de História, considerando que as relações sociais dos homens em conjunto com as esferas de seu imaginário serão a base para a composição da história cultural e das mentalidades.

Transpondo nosso olhar aos dias atuais vemos uma invasão de informações produzidas pela indústria cultural e esta é uma realidade da qual podemos utilizar, como materiais didáticos, que contribuem com a aproximação ao universo cultural dos alunos.

Outro recurso de material são os livros paradidáticos que teriam a possibilidade de uma aproximação das temáticas interdisciplinares, mas como aponta Ernesta Zamboni, ainda permanecem restritos à analises de sociologia e economia.

Vamos abordar agora questões referentes ao documento e ao fato histórico. A cerca deste último, podemos entender a formação do conhecimento histórico dentro do patamar das ações humanas que estão inseridas num contexto emocional cheio de contradições. Esta cultura social relaciona-se aos comportamentos humanos que estão ligados a uma ideologia como parte de um sistema de valores e tradições.

O Historiador Jacques Le Goff nos fala a respeito do Documento, dizendo ser impossível restaurar o real já vivido, assim este é algo que tem sua característica intencional, como produto de uma orientação segundo o contexto histórico no qual foi produzido, por isso é sempre passível de análise e crítica.

Os recursos usados como materiais didáticos também fazem parte de representações humanas, como no caso da fotografia, que é direcionada sobre uma linguagem particular e cheia de significados estabelecidos entre o fotografo e o objeto de sua imagem, seguindo os preceitos de uma ideologia para a criação de uma mensagem intencional.

Como exemplo deste “olhar” do fotógrafo, Ernesta Zamboni faz uma análise dos desenhos de Debret à cerca dos indígenas brasileiros. O olhar registrado revela a face da realidade européia, que privilegiava parâmetros desta conduta em detrimento dos valores indígenas.

Os produtos culturais estão inseridos em contextos sócio-culturais específicos, assim como a construção do conhecimento em sala de aula reflete uma realidade do universo cultural dos alunos, e este conhecimento também está ligado ao valor representativo de imagens e palavras do imaginário do educando.

Aqui, ficamos diante de uma questão a ser desenvolvida nas escolas, no que se refere ao distanciamento da fala do professor, do livro didático e do universo cultural dos alunos. Ernesta nos alerta para a necessidade de uma aproximação dos alunos, para que o professor possa desvendar este seu universo e identificar suas razões a fim de propor pesquisas que possam ampliar suas noções de conhecimento.

Outro assunto neste contexto abordado é quanto à tradição oral enquanto manifestação criativa de histórias do cotidiano, que demonstram as expressões culturais de um povo.

Como exemplo desta área do conhecimento, temos as fábulas e contos populares que também podem ser usados no ensino de história como representações culturais das camadas populares que se utilizam destas tradições orais para transmitirem sentimentos, revoltas e valores morais de sua comunidade.

Quanto à linguagem literária, ficamos diante de outro problema, quando não há uma atualização das palavras, assim tornando-as sem sentido para os alunos. Como exemplo disto vemos o uso das palavras ‘Inconfidência’, ‘Bandeirantes’ e ‘Bloqueio Continental’, que são termos históricos que de certa forma perderam seu significado ao longo dos tempos e por isso pedem uma explicação competente para que haja um melhor aproveitamento na aprendizagem.

Há inúmeras linguagens para a produção e compreensão do conhecimento histórico. Hoje estamos diante de um processo de interação com as mídias informativas de massa, assim nos vemos frente a um impasse de tirar os indivíduos de uma atitude passiva diante destas mídias e de nos aproveitarmos destas informações com discernimento crítico.

Ernesta então finaliza seu estudo dizendo que ao professor cabe a função de mediador analítico destes processos de comunicação, a fim de despertar nos alunos a qualificação de indivíduos críticos e conscientes.

O segundo bloco deste estudo se refere ao texto de Jairo Carvalho do Nascimento em “O uso de documentos e a construção do conhecimento histórico”. A análise feita por este autor trata da necessidade de dinamismo no ensino de história com o objetivo de envolver os alunos na construção do conhecimento histórico, assim o uso de documentos é um bom recurso para o estímulo a aprendizagem.

A cerca do documento histórico podemos dizer que a sua análise faz parte do ofício do historiador, sendo que tais fontes referem-se a qualquer registro humano passível de interpretação social: escritos, artigos visuais, orais, monumentos, que expressam o contexto histórico de uma época revelando seus sentimentos, costumes, valores e ideologias.

O trabalho com documentos em classe permite aos alunos a compreensão dos sujeitos históricos e sua formação social, pois terão a oportunidade de confrontar estes discursos e produzir suas próprias opiniões e conclusões.

Neste sentido, é preciso desenvolver no aluno a arte da pesquisa para que ele possa interpretar suas linguagens, assim os estudantes participarão ativamente do processo de aprendizagem. Atividades como estas também contribuem para o incentivo a preservação do patrimônio histórico num sentido de cidadania.

Na leitura do documento como reflexo de uma sociedade é preciso que haja uma análise crítica deste material, através de interpretações e questionamentos segundo orientação objetiva do professor. Este princípio faz parte de uma metodologia que leva a reconstrução do conhecimento histórico, uma vez que as fontes estudadas também foram compostas em determinado momento e seguindo certas intenções.

Para entender este processo, o professor Jairo propõe um plano didático para o uso de documentos em sala com o fim da análise e comparações conclusivas de 4 momentos históricos registrados pelas fontes que tratam da temática do escravismo: O 1º documento foi retirado do Livro de Eclesiastes, da Bíblia Sagrada. Era utilizado pela Igreja para instruir os fieis quanto aos preceitos da vida cotidiana e de seu comportamento para com os escravos. O 2º documento é originário do Jurisconduto Romano que pautava sobre a conduta dos amos junto a seus escravos. O 3º documento foi feito por um membro da Companhia de Jesus que descrevia a forma com que o senhor de engenho deveria proceder com seus escravos. O 4º documento é um texto jornalístico atual que alerta para a questão da “Nova servidão”, que ocorre em certa fazenda utilizadora do trabalho compulsório e forçado de trabalhadores rurais.

A partir de tais documentos o professor deve fazer um roteiro de perguntas que orientem o processo de análise dos alunos que devem fazer uma descrição destes materiais além da elaboração de comentários comparativos sobre a organização social nestes momentos históricos. Deste exercício, os alunos deverão ser capazes de verificar a construção dos discursos e dos mecanismos ideológicos que justificam a escravidão, além de identificarem na realidade atual situações de transformações sociais e de permanências também.

Após a análise do contexto e das metodologias para o uso dos documentos em sala de aula que foram destacados nos textos acima mencionados podemos concluir que a construção do conhecimento histórico é feita através da pesquisa de documentos, que podem ser resgatados pelos diversos registros de expressões humanas deixados como legado para a história ao longo de gerações.

Assim, sobre a perspectiva atual da Nova História, que busca resgatar a cultura das sociedades expressando seus valores e costumes, o documento pode e deve ser usado como ponte para o desenvolvimento crítico dos alunos além de contribuir para a formação de seu conhecimento.

domingo, 9 de maio de 2010

História Antiga - Os Múltiplos Valores da Moeda na Antiguidade



O texto reproduzido da palestra “Moeda e Concepção de Valor na Pólis Grega”, ministrado por Maria Beatriz Florenzano, propõe uma discussão a cerca da criação e difusão da moeda nas cidades-estado da Grécia Arcaica e Clássica.

A autora procura destacar, desde fontes específicas, explicações que buscam justificar e diferenciar o valor atribuído a moeda dentro da sociedade estudada.

Neste trabalho será destacada a abordagem feita pela autora sobre a insurgência da moeda dentro do contexto histórico que se apresentava no período Ocidental da Antiguidade Clássica; também devem ser mencionados os parâmetros de estudos realizados para o entendimento das transformações ocorridas naquela perspectiva histórica, conforme a documentação deixada por outros autores.

O Contexto Histórico da Insurgência da Moeda no Mundo Grego

Na época da aristocracia rural, de riqueza baseada em terras e rebanhos, a economia era pré-monetária, baseada na troca em espécie. Os objetos usados para troca vinham carregados de simbologia afetiva e sagrada. As relações sociais, impregnadas de caráter sobrenatural, eram fortemente marcadas pela posição social de pessoas consideradas superiores, devido à origem divina de seus ancestrais.

Entre os séculos VIII e VI a.C. deu-se o desenvolvimento do comércio marítimo, decorrente da expansão do mundo grego, com a colonização da Magna Grécia.

A moeda apareceu na Grécia por volta do século VII a.C., vindo facilitar os negócios e impulsionar o comércio, ao funcionar como valor universal das mercadorias.

Emitida e garantida pela pólis, a moeda fazia reverter seus benefícios para a própria comunidade.

Além desse efeito político de democratização de um valor, a moeda sobrepunha aos símbolos sagrados e afetivos o caráter racional de sua concepção: a moeda se constitui convenção humana, noção abstrata de valor que estabelece a medida comum entre valores diferentes. Nesse sentido, a invenção da moeda desempenha papel revolucionário, por vincular-se ao nascimento do pensamento racional crítico.

Entrelaçado a esses eventos, o aparecimento das primeiras pólis, por volta dos séculos VIII e VII a.C., exerceu influência decisiva na vida social e nas relações humanas.

Estava sendo elaborado o novo ideal de justiça, pelo qual todo cidadão tem direito ao poder. A noção de justiça assume caráter político, e não apenas moral, ou seja, não diz respeito apenas ao indivíduo e aos interesses da tradição familiar, mas à sua atuação na comunidade.

A pólis se fez pela autonomia da palavra, não mais a palavra divina dos mitos, para ser comum a todos, como a palavra humana do conflito, da discussão, da argumentação.

Expressar-se por meio do debate fez nascer a política, que permite ao indivíduo tecer seu destino na praça pública. A instauração da ordem humana deu origem ao cidadão da pólis, figura inexistente no mundo da comunidade tribal.

Mas a questão do aparecimento da moeda neste momento, não se deve somente a sua utilidade econômica, conforme descrito anteriormente. A moeda, na sociedade grega, segundo a pesquisa da autora do texto em estudo, esteve envolvida em diversos aspectos dentro dos âmbitos político, social, cultural, que se destacam:

· A moeda esteve cercada de um valor mítico, representativo de façanhas heróicas, da história dos deuses e seus atributos divinos. Pelas fontes estudadas podemos ver que tais fatores míticos estavam ligados às tradições morais daquele povo, envolvido em dogmas centenários, e que agora transmitia a moeda este valor concreto de relações interpessoais.

· Referente ao valor político da moeda, vemos este metal usado em épocas clássicas como uma afirmação do poder político que marcava a autonomia das colônias em relação às metrópoles gregas.

· Na esfera social, a moeda teve papel importante como instrumento de promoção da igualdade e participação política na dos cidadãos na democracia. Desta forma, a moeda representou um modo de distribuição racional da riqueza e recebia assim seu valor abstrato.

Das fontes

Todo este contexto histórico estudado pode ser verificado através de diversas fontes que envolvem duas referencias: as fontes escritas e documentais, como nos textos de Heródoto, em A Ilíada, ou também em livros de Aristóteles, como A Ética de Nicomaco. E as fontes materiais, que foram trabalhadas por numismatas, buscando a análise da cunhagem e da circulação destes metais.

As fontes pesquisadas pela autora revelam justamente a forma com que a moeda era utilizada entre os séculos VII à V a.C., ou seja, seus aspectos míticos, sociais e comerciais.

Dentro da pesquisa documental pode-se analisar também como foi desenvolvido o pensamento grego de forma racional diante da inserção da moeda na estrutura democrata em formação.

A abrangência desta temática da moeda e dos valores a ela atribuídos se estende ainda mais por diversos tópicos dentro daquela sociedade grega em plena transformação. Aqui tentei enforcar em síntese certos parâmetros importantes da análise histórica.

Um florescimento cultural intenso acompanhou a prosperidade das Polis gregas e entre outros fatores, devemos olhar com especial interesse a invenção da escrita, da moeda e a instituição da democracia que foram frutos de um processo gestado ao longo dos tempos e que tem sua dívida com o passado mítico, mas que retratam uma nova versão filosófica da sociedade: a busca da coerência interna e racional da vida dos cidadãos que agora podiam expressar-se por meio do debate e fazer nascer a política e uma nova ordem humana, inexistente no mundo da comunidade tribal.

Aranha, Maria Lucia de Arruda, Filosofando – Introdução à filosofia, Ed. Moderna

Bibliografia

www.greciantiga.org

GLOTZ, G. A Cidade Grega. Trad. H.A. Mesquita e R.C. Lacerda. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2ª ed., 1988.

Aranha, Maria Lucia de Arruda, Filosofando – Introdução à filosofia, Ed. Moderna

Linguagem e História, Palavras e Tempos



Resumo Academico da obra de Flávio Luis Freire Rodrigues

O trabalho produzido pelo professor Flávio procura levantar questões específicas sobre a construção da linguagem, partindo do princípio de que a linguagem é antes de tudo uma forma de representação do mundo, o autor utiliza-se de paramentos do estudo da linguagem que podem ser definidos através de vários conceitos, tais como a simbolização – que “é a capacidade de representar algo na sua ausência”, ou seja, para se falar de algo, este fato deve ter uma identidade, da qual o uso da palavra poderá representá-lo. Neste sentido, Flávio passa a citar o estudo de alguns especialistas da linguagem: Saussure identifica o signo lingüístico entre significante (som), e significado, ou seja, o cérebro relaciona imagens e impressões sonoras ao significado do objeto a que se refere. Este autor afirma que não há lógica para a construção das palavras, por isso cada língua pode ser construída segundo a identidade de seu povo. Bakthin, filósofo de formação marxista, ao contrário de Saussure, entende o uso da linguagem como uma atividade social e não individual, onde a comunicação entre os indivíduos é um reflexo ideológico das estruturas sociais. Para este autor, “a palavra é um fenômeno ideológico por excelência”, e por isso está sempre carregado de conteúdo existencial. Para entender este conceito são usados vários exemplos atuais e históricos que permitem explicar o valor ideológico atribuído a utilização das palavras. Vygotsky concorda com Bakthtin e acrescenta que assim como acontece com os fatos históricos, a linguagem também se altera no sentido de seu significado simbólico e passará a compor os signos lingüísticos dos movimentos de transformações históricas. A partir deste ponto, o professor Flávio passa a destacar instrumentos de estudos que permitam definir a linguagem. Para isso, ele identifica três elementos chave para tal definição: os interlocutores, a situação de comunicação e o contexto sócio-histórico-ideológico. Estes elementos são responsáveis pela construção da linguagem e por sua instancia de interação humana, ou seja, funcionando como instrumento mediador das relações interpessoais, que também pode ser percebido pela forma como os interlocutores se expressam em sua comunicação. Com o intuito de estabelecer o vínculo entre a história e a linguagem, o autor vai abordar desde então, a situação da época escravista no Brasil colonial, onde o negro era representado como um bem, um objeto independente de suas vontades e necessidades humanas e como a linguagem vigente naquele momento, foi utilizada com o fim de reafirmar a condição de subjugo dos escravos. Para tanto, Flávio procura descrever através de exemplos retirados de fontes especificas da época, como registros de anúncios, da imprensa e de documentos oficiais; a contribuição da linguagem para a construção do imaginário popular. Dentro deste contexto histórico, temos o Brasil, dos séculos XVI e XVII, com uma economia sustentada pelo escravismo e pelo tráfico negreiro e situações tensas de relações entre os brancos (proprietários) e os negros (propriedade). Para a legitimação deste domínio branco, o instrumento utilizado foi a ideologia: de poder e de eurocentrismo, que através do uso das palavras, deixava claro quem podia dominar. Em relação à análise lingüística, o autor partiu dos registros mencionados para identificar as relações entre senhores e escravos e os adjetivos a estes atribuídos no sentido da representação das estruturas e da estratificação social. Para concluir, Flávio procura alertar o leitor para o fato de que apesar dos negros legalmente serem tratados como coisas, no fundo eram considerados pessoas, pois afinal, ao reunirem-se poderiam alcançar sua consciência de classe, por isso, tais ajuntamentos eram rigorosamente combatidos para preservar as bases do escravismo. Por fim, o autor ainda aponta para a importância do diálogo entre a lingüística e a história, que podem contribuir mutuamente para o entendimento da vida em sociedade durante os tempos.

EXPRESSOES LINGUÍSTICAS

· Expressões que já não são mais utilizadas:

Boco moco – Cafona, sem graça

Guarda-se o que comer não o que fazer – Assumir responsabilidade

Broto legal – Moça bonita, formosa

Menina boa para casar tem que ser normalista – Moça que estuda magistério é prendada

Toma tento – Fique esperto

· Expressões recentes (neologismo):

Muvuca – Lugar muito cheio

A Treva – Horrível

Tá bombando – Lugar animado

Tosco – Estranho

Deu perdido – Sair sem avisar

· Expressões usadas na Região:

Os coxinhas – Policiais

Orra meu – Expressão de espanto

É nóis na fita – Confirmação de presença

Da hora – Muito bom

Tá ligado – Ficar atento


Historiografia - Perspectivas Historiográficas do Séc XX


Partindo das perspectivas historiográficas destacadas no texto selecionado para compor este trabalho: Como se escreveu a história do Brasil nas primeiras décadas do século XX, buscarei levantar questões que tiveram importância dentro do contexto histórico e social a qual se inseriam. Para tal, tratarei de algumas analises de autores e das temáticas defendidas e estudadas por estes durante o século XX no Brasil.

Alem do texto inicial, que trata de métodos historiográficos aplicados por Afonso de Taunay e Capistrano de Abreu, pretendo também ressaltar um certo reflexo evolucionista da historiografia brasileira, levantando temáticas que foram importantes dentro da História nos diferentes momentos do século XX.

O texto de Karina Anhezini, citado na introdução, nos leva a pensar no Brasil, em meados de 1920, que teve como autor exemplar da historiografia, Afonso de Taunay, que com a ajuda do mestre Capistrano de Abreu, abriu o campo das abordagens históricas para níveis mais centrados em enfoques regionais e nacionais, concentrando-se em grande parte também nas ações cotidianas e comportamentais do período elegido para o estudo: o movimento bandeirante que impulsionou a expansão territorial dos sertões.

A corrente historiográfica brasileira até aquele momento, levava a cabo grande influencia da herança cultural ibérica na contextualização dos objetos de estudos dos historiadores. Assim, autores de história até esta época olhavam para os estudos do Brasil sob uma perspectiva essencialmente eurocêntrica, e também sob uma função político-administrativa e biográfica. Além desta tendência elitista e positivista da produção historiográfica, temos os registros principalmente de ascendência estrangeira, que deixava de lado o envolvimento destes autores com a própria terra e cultura estudadas.

Neste período devemos destacar a importante contribuição de Afonso de Taunay, que se entregou profundamente ao estudo do movimento das bandeiras desde São Paulo do século XVII. Ao se aventurar nesta nova perspectiva, Taunay teve de buscar novas fontes materiais das quais pudesse desvendar tal momento, destas utilizou-se da documentação guardada pelo Arquivo Público do Estado e pesquisas locais.

Neste trabalho, Afonso de Taunay tinha o interesse maior na reconstituição do passado o mais fielmente possível, mas para isso buscou entender este passado na veia dos costumes, do cotidiano enfim, na vida dos homens que viveram naquele período. Desta forma sua intenção se distanciava da historiografia factual e daquela “história das batalhas” e de seus heróis, privilegiando antes a história dos costumes.

Dentro desta perspectiva o autor teve de se ocupar da documentação disponível com muito cuidado, pois nem tudo o que foi documentado era realmente verossímil, por isso fazia parte de seu intuito uma atitude crítica que entendia como uma profissão de fé de responsabilidade de todo historiador.

Depois deste trabalho estavam lançadas as bases da disciplina histórica, que seria decisiva para os novos rumos da escrita da historia do Brasil.

Ainda trataremos aqui, de forma sintética, de outros trabalhos de suma importância na historiografia brasileira, para revermos os conceitos que tiveram destaque em cada momento e a motivação que levou seus autores a levantarem estas temáticas.

Em primeiro lugar, temos de ressaltar a grande contribuição deixada por Gilberto Freyre, em “Casa Grande e Senzala”, que também deixou de lado as preocupações do determinismo e evolucionismo para dar maior atenção à cultura e à relatividade de valores, em conformidade com os princípios recém lançados na França pela Escola dos Analles (1929), que buscava valorizar aspectos da história das mentalidades e a renovação das fontes de pesquisa.

Neste trabalho, Freyre tentava justificar a conquista e ocupação portuguesa do Brasil, além de revalidar a necessidade da escravidão dentro do sistema colonial. Ainda assim seu intuito maior foi ressaltar, através de descrições do cotidiano nas fazendas, como foi de grande relevância a presença dos negros neste período histórico e a contribuição por estes deixadas para a cultura, economia e miscigenação do país.

Era uma preocupação iminente neste momento, para o autor, a afirmação da identidade brasileira pautada no bom aspecto da miscigenação, uma vez que os negros, desde a Abolição, precisavam integrar a identidade social do país. Desta forma, Freyre utilizou-se de fontes características do indiciarismo para realçar esta visão que reconhecia a importância dos escravos na vida dos senhores e na formação cultural mestiça do Brasil.

Um segundo autor a ser destacado é Sérgio Buarque de Holanda, com seu retrato de São Paulo em vias do desenvolvimento industrial e urbano, deixado em seu livro: “Raízes do Brasil” de 1936.

Neste trabalho, Sérgio Buarque fundamenta seus estudos com base no historicismo, de estrutura teórica dominante do pensamento alemão, o qual trata da compreensão dos fenômenos históricos considerando o ideário da situação em que ocorreu.

Em Raízes do Brasil, este autor preocupa-se em entender a gênese da sociedade brasileira, buscando as origens e características da formação cultural e social do país. Atribui a tal formação: raízes que provem do pensamento da metrópole portuguesa. Dizia assim que o português não tinha apreço ao trabalho, era mais dado às aventuras que a uma organização social produtiva, o que ao final foi passado aos brasileiros de origem portuguesa que não foram capazes de uma organização política e social sustentável para o Brasil pós queda das oligarquias. Estas por fim, foram as raízes deixadas pela colonização portuguesa neste país dos trópicos.

Num terceiro momento vamos tratar de outro autor que deixou nova contribuição para historiografia brasileira: Caio Prado Junior com sua obra, Formação do Brasil Contemporâneo, que trazia a noção de “processos históricos" com forte influencia do pensamento marxista a respeito do materialismo histórico.

Neste contexto, Caio entendia que a história do Brasil teve uma carência na formação de um mercado interno organizado, causado pela economia anteriormente voltada exclusivamente ao mercado externo e dependente de uma metrópole preocupada principalmente com a exploração econômica desta colônia. Também acrescenta que os sujeitos da história do Brasil não se reduziam às elites, mas incluíam as classes sociais em luta, que podiam ser verificadas nos movimentos sociais dos séculos XVIII e XIX.

Era necessário entender estes mecanismos sociais, buscando desvendar a “face oculta”, dos excluídos, dos trabalhadores que fizeram parte da formação da nacionalidade brasileira. Ainda assim, o autor destaca o fato de que não houve realmente uma evolução de uma economia colonial para uma economia nacional, daí surgindo vários problemas de ordem social na formação da identidade brasileira.

Numa síntese do trabalho destes quatro autores, procurei fazer uma viagem pelo pensamento historiográfico brasileiro do século XX, lembrando que não finalizam aqui tais correntes historiográficas, pois vários autores podem ainda ser destacados, mas aqui tive o intuito de ao apontar tais obras significativas para a história do Brasil para que pudéssemos ver como o interesse da história pode ser mutável e renovável segundo a instância do projeto de estudo o qual se insere.

A historiografia é constituída aos poucos e está em pleno movimento, explicando porque a historia não é uma disciplina que propõe a provas definitivas, mas antes disto, fundamenta-se no debate crítico de suas temáticas.