Fazendo História

Primeira Estação:

Convido a todos fazer parte deste passeio pela Vida, já que para fazer história é preciso ter passado pela vida e deixado sua marca. Assim, desde filósofos, políticos e mártires até escravos, indígenas e o tocador de tuba no coreto fazem parte desta viagem que quer retratar a cultura costurada durante o tempo dos Homens.
Aproveitem da viagem!

domingo, 9 de maio de 2010

Teoria da História - História Cultural


A partir do texto usado para este estudo - A História Cultural e a contribuição de Roger Chartier, de José D’Assunção Barros – temos aqui a proposta de fazer algumas análises a respeito do tema abordado: A História Cultural. Neste sentido podemos verificar a contribuição deixada por R. Chartier e M. Certeau, referente às especificidades dos conteúdos atribuídos a esta vertente histórica.

No decurso do século XX várias tendências de abordagem histórica foram desenvolvidas. Aqui vamos destacar uma delas, a História Cultural e suas representações.

Com a expansão dos objetos historiográficos assim como de suas fontes de pesquisa desde as renovações historiográficas do séc. XX, o estudo da História Cultural passou a ser estendido ao âmbito das Ciências Humanas. Esta nova modalidade de estudo pode abranger aspectos como a cultura popular, a cultura letrada, as práticas discursivas de grupos sociais, sistemas educativos, enfim, todos os assuntos relacionados à “cultura”.

Desta forma a História Cultural não está mais limitada aos antigos objetos de estudo históricos como a produção literária e artística oficialmente reconhecida e elitista, abre-se agora o interesse dos historiadores para novas perspectivas dentro da cultura social.

Segundo a abordagem do autor, o mundo da cultura é produzido desde qualquer forma de comunicação social, com isto o indivíduo ou grupo que se comunica está demonstrando o seu “modo de vida”.

Estas práticas culturais são constituídas desde o ato da produção até o momento de recepção do objeto cultural.

Falando em noções atribuídas à “cultura”, devemos citar a linguagem ou comunicação, as representações e as práticas culturais. Podemos também identificar neste contexto uma “pluralidade de culturas” que se integram ao meio social, assim o historiador deve desvendar qual a realidade que pode ser abordada dentro deste universo cultural.

As noções de mundo da “cultura material” e “popular” são produzidas ao nível da vida cotidiana das sociedades. É neste mundo cultural que se encontram os objetos de interesse do historiador, que pode desvendar nas formas de produção cultural as intenções inseridas neste ato. Podemos relacionar alguns meios produtores da cultura social: sistemas educativos, imprensa, meios de comunicação, entre outras organizações.

Além dos sujeitos produtores culturais, devemos nos ater também às suas práticas e processos; incluindo-se nestas análises a “matéria prima” cultural, os sistemas de valores, os sistemas normativos, enfim a forma como as idéias são passadas por diferentes grupos sociais. Neste ponto nos aproximamos de temáticas estudadas pela História das Mentalidades.

Falaremos agora da contribuição específica dos dois autores já mencionados, Certeau e Chartier, que seus tiveram interesses voltados para áreas da história antropológica e de práticas culturais diversas.

Entre “práticas” e “representações”, devemos relacionar os “modos de fazer” e “modos de ver” como parte da atitude cultural.

Levando em conta tais práticas culturais, o autor sugere que façamos uma análise cuidadosa do significado social do mendigo em épocas distintas, como a Idade Média e a Moderna.

No período referente a Alta Idade Média o mendigo tinha um papel vital nas sociedades cristãs: ele representava um “instrumento de salvação para o rico”, que segundo a ideologia cristã, através da caridade, os homens poderiam expiar seus pecados e conseguir alcançar o reino dos céus. Desta forma, os mendigos recebiam uma atenção fundamental da nobreza e do clérigo, que podemos atribuir esta manifestação social como uma autentica “representação cultural”.

No entanto, com o passar do tempo com as mudanças históricas ocorridas durante o período, a partir da Idade Moderna, esta representação cultural do mendigo foi se transformando, assim desde o advento da burguesia como classe em ascensão, juntamente com as tendências pré-capitalistas de acumulação e o novo ideário anticlerical, o mendigo neste momento passou a representar uma ameaça ao sistema de trabalho capitalista.

O mendigo passa a ser visto como vagabundo e marginal, pois não corresponde à necessidade de mão de obra barata da nova economia capitalista. Desta forma são concebidas novas práticas culturais que competem à formação de novos valores e costumes sociais.

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Ao pensar na produção de práticas culturais, usaremos como exemplo o livro; que para sua produção são utilizadas as mais diversas práticas, as quais podem destacar: a ordem autoral, a editorial ou a artesanal, que são práticas concernentes ao gênero literário que se inscreve a obra.

O autor da obra, também é responsável pela criação de representações culturais que envolvem, por outro lado, o leitor, como o novo produtor das práticas sociais; práticas estas que poderão fazer parte de representações coletivas.

Dentre os pólos discutidos até agora, sobre práticas e representações, ainda podem ser acrescentados: a música, os saraus, o sistema educativo, a poesia, o teatro, enfim toda a prática cultural é decisiva como forma de representação social. Neste sentido, se interligam os objetos culturais produzidos, os sujeitos produtores e os receptores da cultura.

Ainda pensando no âmbito das representações, podemos acrescentar elementos do imaginário social, que se referem, por exemplo, a representações de poder geradoras de determinado imaginário político.

Ao tratar de tais temáticas da História Cultural, percebemos que esta é uma modalidade de estudo em construção, pois vemos que os conceitos nesta área ainda não são definitivos, mas se apresentam em fase de criação, por isso os elementos estudados são mencionados como “noções” e não “conceitos” já amadurecidos na historiografia.

Neste patamar estão as noções de Mentalidades, Imaginário e representações.

Como conceitos temos as idéias de Simbologia e Ideologia, que também são elementares para a Historia Cultural.

A questão do “símbolo” é normalmente empregada “quando o objeto considerado é remetido para um sistema de valores subjacente, histórico ou ideal” (LE GOFF, 1994, p.12). O símbolo constitui um dos recursos mais importantes da comunicação humana.

Em matéria de “ideologia”, esta aparece como um projeto de agir sobre a sociedade, com a função de transmitir valores fundamentais dentro do organismo social. Dentro desta abordagem, a ideologia denuncia formas de controle social, através de mecanismos de poder.

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Os conceitos discutidos neste trabalho são elementos essenciais para a construção da História Cultural, a qual tem como objetivo compreender como é determinada as diversas realidades culturais, assim como são inseridas as formas de pensar e de fazer destas realidades.

Importante é lembrar que a História como disciplina, está sempre em movimento, em atitude de criação, pois nenhum conceito está finalizado ainda, por isso é fundamental manter os debates críticos dentro da historiografia para que a História possa contar sempre com novas formas de abordagens e de renovação.

Bibliografia

BARROS, José D’Assunção. O Campo da História – especialidades e abordagens, Petrópolis: Vozes, 2004.

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