Fazendo História

Primeira Estação:

Convido a todos fazer parte deste passeio pela Vida, já que para fazer história é preciso ter passado pela vida e deixado sua marca. Assim, desde filósofos, políticos e mártires até escravos, indígenas e o tocador de tuba no coreto fazem parte desta viagem que quer retratar a cultura costurada durante o tempo dos Homens.
Aproveitem da viagem!

domingo, 9 de maio de 2010

História Antiga - Os Múltiplos Valores da Moeda na Antiguidade



O texto reproduzido da palestra “Moeda e Concepção de Valor na Pólis Grega”, ministrado por Maria Beatriz Florenzano, propõe uma discussão a cerca da criação e difusão da moeda nas cidades-estado da Grécia Arcaica e Clássica.

A autora procura destacar, desde fontes específicas, explicações que buscam justificar e diferenciar o valor atribuído a moeda dentro da sociedade estudada.

Neste trabalho será destacada a abordagem feita pela autora sobre a insurgência da moeda dentro do contexto histórico que se apresentava no período Ocidental da Antiguidade Clássica; também devem ser mencionados os parâmetros de estudos realizados para o entendimento das transformações ocorridas naquela perspectiva histórica, conforme a documentação deixada por outros autores.

O Contexto Histórico da Insurgência da Moeda no Mundo Grego

Na época da aristocracia rural, de riqueza baseada em terras e rebanhos, a economia era pré-monetária, baseada na troca em espécie. Os objetos usados para troca vinham carregados de simbologia afetiva e sagrada. As relações sociais, impregnadas de caráter sobrenatural, eram fortemente marcadas pela posição social de pessoas consideradas superiores, devido à origem divina de seus ancestrais.

Entre os séculos VIII e VI a.C. deu-se o desenvolvimento do comércio marítimo, decorrente da expansão do mundo grego, com a colonização da Magna Grécia.

A moeda apareceu na Grécia por volta do século VII a.C., vindo facilitar os negócios e impulsionar o comércio, ao funcionar como valor universal das mercadorias.

Emitida e garantida pela pólis, a moeda fazia reverter seus benefícios para a própria comunidade.

Além desse efeito político de democratização de um valor, a moeda sobrepunha aos símbolos sagrados e afetivos o caráter racional de sua concepção: a moeda se constitui convenção humana, noção abstrata de valor que estabelece a medida comum entre valores diferentes. Nesse sentido, a invenção da moeda desempenha papel revolucionário, por vincular-se ao nascimento do pensamento racional crítico.

Entrelaçado a esses eventos, o aparecimento das primeiras pólis, por volta dos séculos VIII e VII a.C., exerceu influência decisiva na vida social e nas relações humanas.

Estava sendo elaborado o novo ideal de justiça, pelo qual todo cidadão tem direito ao poder. A noção de justiça assume caráter político, e não apenas moral, ou seja, não diz respeito apenas ao indivíduo e aos interesses da tradição familiar, mas à sua atuação na comunidade.

A pólis se fez pela autonomia da palavra, não mais a palavra divina dos mitos, para ser comum a todos, como a palavra humana do conflito, da discussão, da argumentação.

Expressar-se por meio do debate fez nascer a política, que permite ao indivíduo tecer seu destino na praça pública. A instauração da ordem humana deu origem ao cidadão da pólis, figura inexistente no mundo da comunidade tribal.

Mas a questão do aparecimento da moeda neste momento, não se deve somente a sua utilidade econômica, conforme descrito anteriormente. A moeda, na sociedade grega, segundo a pesquisa da autora do texto em estudo, esteve envolvida em diversos aspectos dentro dos âmbitos político, social, cultural, que se destacam:

· A moeda esteve cercada de um valor mítico, representativo de façanhas heróicas, da história dos deuses e seus atributos divinos. Pelas fontes estudadas podemos ver que tais fatores míticos estavam ligados às tradições morais daquele povo, envolvido em dogmas centenários, e que agora transmitia a moeda este valor concreto de relações interpessoais.

· Referente ao valor político da moeda, vemos este metal usado em épocas clássicas como uma afirmação do poder político que marcava a autonomia das colônias em relação às metrópoles gregas.

· Na esfera social, a moeda teve papel importante como instrumento de promoção da igualdade e participação política na dos cidadãos na democracia. Desta forma, a moeda representou um modo de distribuição racional da riqueza e recebia assim seu valor abstrato.

Das fontes

Todo este contexto histórico estudado pode ser verificado através de diversas fontes que envolvem duas referencias: as fontes escritas e documentais, como nos textos de Heródoto, em A Ilíada, ou também em livros de Aristóteles, como A Ética de Nicomaco. E as fontes materiais, que foram trabalhadas por numismatas, buscando a análise da cunhagem e da circulação destes metais.

As fontes pesquisadas pela autora revelam justamente a forma com que a moeda era utilizada entre os séculos VII à V a.C., ou seja, seus aspectos míticos, sociais e comerciais.

Dentro da pesquisa documental pode-se analisar também como foi desenvolvido o pensamento grego de forma racional diante da inserção da moeda na estrutura democrata em formação.

A abrangência desta temática da moeda e dos valores a ela atribuídos se estende ainda mais por diversos tópicos dentro daquela sociedade grega em plena transformação. Aqui tentei enforcar em síntese certos parâmetros importantes da análise histórica.

Um florescimento cultural intenso acompanhou a prosperidade das Polis gregas e entre outros fatores, devemos olhar com especial interesse a invenção da escrita, da moeda e a instituição da democracia que foram frutos de um processo gestado ao longo dos tempos e que tem sua dívida com o passado mítico, mas que retratam uma nova versão filosófica da sociedade: a busca da coerência interna e racional da vida dos cidadãos que agora podiam expressar-se por meio do debate e fazer nascer a política e uma nova ordem humana, inexistente no mundo da comunidade tribal.

Aranha, Maria Lucia de Arruda, Filosofando – Introdução à filosofia, Ed. Moderna

Bibliografia

www.greciantiga.org

GLOTZ, G. A Cidade Grega. Trad. H.A. Mesquita e R.C. Lacerda. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2ª ed., 1988.

Aranha, Maria Lucia de Arruda, Filosofando – Introdução à filosofia, Ed. Moderna

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